MOACIR MEDRADO - MOGA
Um pouco do que tenho sido além do físico
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ETANOL DE CELULOSE
Texto apresentado durante o Seminário "Produção do álcool de celulose do bagaço e outras matérias - primas" realizado na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo em 14 de maio de 2007 quando representou o Presidente da Embrapa Dr. Sílvio Crestana

Em primeiro lugar pedimos desculpas, em nome de nosso Presidente Sílvio Crestana pela sua ausência neste encontro tão importante. Dr. Sílvio, no entanto, nos orientou a deixar evidente, o mais possível, a importância deste seminário, das instituições aqui representadas e, em especial, da Fiesp que, certamente, será uma das principais parceiras da Embrapa no desenvolvimento da agroenergia em nosso país.
Gostariamos, também, de, por primeiro, falar da problemática ambiental para então - e só então – entrar no tema deste seminário.
É sabido que as alterações climáticas globais têm como origem principal a queima de florestas e de combustíveis fósseis como petróleo, carvão mineral e gás natural.
É sabido, também, que somente o petróleo e o carvão respondem por 40% das emissões de CO2 derivada da queima de combustíveis fósseis. Por isto, temos que promover até a metade do século 21 uma mudança radical nas fontes de energia e no uso final das mesmas.
O consumo global de petróleo, segundo a Agência Internacional de Energia – AIE é de 85 milhões de barris diários com projeções de ser de 121 milhões em 2030.  Mesmo com um crescimento do consumo menor que dos últimos três anos.
Assim, os aumentos de preço em função da escassez do petróleo continuarão sendo um grave risco para a ecnonomia mundial.
Dos derivados do petróleo, sabe-se que o consumo de diesel e de gasolina apresentam o maior crescimento. Somente o setor de transporte demanda 58% do total dos derivados de petróleo. A gasolina automotiva, sozinha, responde por 24% da produção média de todo o mundo enquanto que, no momento, a produção brasileira e norte-americana do biocombustível etanol corresponde a apenas 2% da demanda mundial desta gasolina.
Por estes motivos e pela vulnerabilidade dos suprimentos de combustíveis fósseis a matriz energética mundial está se reorientando para o aumento da contribuição de fontes renováveis de energia, que são em geral, produzidas localmente. Uma delas é a biomassa moderna onde o etanol é o principal representante.
No que tange ao uso de biocombustíveis o Brasil tem uma sólida experiência obtida a partir dos 30 anos de álcool e agora mais recente de biodiesel.
Desde a criação do proálcool o brasil teve uma economia de 778 milhões de barris de óleo equivalente (boe) e de US$ 52 bilhões, apenas no atendimento ao mercado de veículos automotivos e evitou a emissão de 644 milhões de toneladas de gás carbônico.
Esta experiência brasileira, gerada pela inteligência nacional, aqui tão bem representada, tem deixado o mundo perplexo e hoje vários países estão produzindo o seu próprio álcool ou estão importando, ou estão pretendendo importar álcool de nosso país.  Exportamos em 2006, 3,36 bilhões de litros.
Assim, é notória a importância do álcool na matriz energética atual do Brasil e do mundo do futuro.
O Brasil, tem portanto, uma importância direta e indireta, por que não dizer fundamental, no planejamento futuro da matriz energética mundial.
Temos um combustível verde a custos competitivos com a gasolina e que, no momento, é a única opção competitiva no mundo e é, também, muito mais eficiente na substituição do petróleo e dos GEE, que o etanol de outras fontes.
Vale ressaltar, no entanto, que apesar da produção de etanol da celulose ter um grande espaço, o Brasil não tem esquecido que o segmento de produção de etanol deve ser aperfeiçoado na tecnologia e na logística do setor produtivo, nos laboratórios e no campo.
Sabemos que temos um futuro desafiador.
A união européia (EU) e os Estados Unidos (EUA) têm planos ambiciosos.
A UE adotou diretrizes que obrigam a adição de 2% de biocombustíveis na gasolina em 2007, de 5,75% em 2010, atingindo em 2020 a mistura de 10%; alguns paises membros querem ir mais longe, ou mais rapidamente..
Os EUA que inicialmente queriam dobrar o seu consumo de biocombustíveis de 17,5 bilhões de litros ao ano e almejar uma adição de 15% em 2017, hoje, perseguirão uma meta de redução de 20% no consumo de gasolina para os próximos dez anos, usando sobretudo o etanol e outros combustíveis alternativos.
No brasil, a coisa não tem sido diferente.
Há estimativas de que nos próximos 10 anos, ocorrerá um aumento entre 3 a 4 milhões de hectares de área plantada de cana-de-açúcar, prevê-se a instalação de aproximadamente 151 novas usinas. A capacidade de moagem brasileira pode chegar à marca de 732 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, que processadas produzirão cerca de 37 bilhões de litros de etanol e 41 milhões de toneladas de açúcar na safra 2015-2016.  
Nós já substituÍmos aproximadamente 40 % da gasolina e temos terra, clima e tecnologia, ao contrário de grandes consumidores como os EUA e a UE, para estender a produção em dez vezes ou mais..
Com base nisso, desenham-se no país planos, também ambiciosos, que planejam o atendimento de 5% da demanda mundial. Para isto estima-se a necessidade de uma agregação de 22 milhões de hectares de plantios de cana-de-açúcar, gerando um número significativo de 5 milhões de empregos.
Nossos planos são ambiciosos mas nossa ciência e os empresários brasileiros são aceitadores de grandes desafios.
Lí há poucos dias um artigo escrito por uma de nossas inteligências na área do álcool e ficamos orgulhosos em saber mais sobre os avanços que obtivemos no periodo de 1975 a 2006.
A tecnologia de produção de cana-de-açúcar e etanol no Brasil avançou muito. Em São Paulo, por exemplo, houve um aumento de 33% em toneladas de cana/ha, 8% em teor de açúcar na cana e 14% na conversão dos açúcares na cana para etanol.
Melhor, é que, de acordo com esse brilhante cientista brasileiro, nos próximos anos será possivel implementar  a agricultura de precisão, variedades específicas para novas áreas, avanços na mecanização agrícola, novos processos de separação do etanol, e automação industrial.
Mais ainda, que em médio e longo prazos, diversos co-produtos derivados de sacarose e novos subprodutos serão incorporados, poderá ocorrer a hidrólise de biomassa e diversas fermentações dos açúcares resultantes; a gasificação de biomassa, para energia elétrica ou síntese de combustíveis; e possivelmente a engenharia genética, no suporte ao melhoramento da cana.
Este é o verdadeiro espetáculo brasileiro.
Aqui, como representante da Embrapa e como brasileiro, nós queríamos registrar nosso agradecimento a todas as Universidades e Centros de Pesquisa que participaram dessa revolução silenciosa. Em especial à Esalq que me propiciou a oportunidade de mestrado e doutorado e ao CTC que desde que foi fundado, nos fins dos anos 70, já lançou no mercado 60 variedades diferentes de cana e tem mantido a média, nos últimos tempos, de apresentar entre duas e três novas variedades por ano.
Não poderia deixar de falar também na relação etanol e este polêmico tema que é o carbono.
Pois bem. A produção brasileira de etanol tem sido uma forma de mitigar a situação uma vez que, por exemplo, ao consumir álcool combustível, deixamos de emitir para a atmosfera cerca de 8 milhões de toneladas de carbono. Sabemos que isto é pouco, como efeito mitigador, uma vez que só as queimadas na Amazônia emitem cerca de 3 bilhões de toneladas de carbono. Mas a cana dá a grande contribuição na produção de combustível limpo.
Quem sabe, creio eu, como chefe da Embrapa Florestas, teremos no futuro um setor produzindo em sua maioria uma energia limpa, a partir da cana, em propriedades ambientalmente adequadas e até mesmo com florestas regeneradas em meio às plantações de cana altamente tecnificadas, como barreiras sanitárias, propiciando a oportunidade de termos além de um combustivel limpo, uma produção com selo ambiental.
Mas nem tudo é tão simples e animador.
Haveremos de  conviver com as criticas à produção do álcool. As perspectivas de crescimento do setor já começam a provocar reações em parte da sociedade em relação a uma provável influência negativa na produção de alimentos.
Temos que demonstrar, portanto, muito rapidamente, que a produção de álcoo,l se bem feita, não provoca uma competição da cana com outras culturas.
Por outro lado, devemos mostrar que no Brasil, dos 120 milhões de hectares de pastagens cultivadas cerca de 50 milhões estão em diferentes estágios de degradação. e que se usarmos apenas 20% dessas pastagens para o plantio de cana o país produzirá etanol suficiente para substituir 5% da gasolina consumida no mundo.
Tudo isto sem desmatamento, e garantindo o espaço da agricultura e da pecuária bem conduzidas.
O processo será, ainda, mais equilibrado se passarmos a dominar a tecnologia de produção de álcool a partir do bagaço e da palha da cana uma vez que hoje, a maior parte da palha é queimada gerando problemas ambientais e apenas parte do bagaço é usado como combustível para gerar eletricidade; outra parte tem gerado, inclusive, um certo passivo ambiental que pode ser revertido em combustível.
Uma outra pergunta que surge na cabeça de muitos é a seguinte: por que produzir etanol celulósico se a produção do etanol brasileiro já pode ser considerada como de segunda geração?
Pois bem. a produção de etanol brasileiro já pode ser considerada , sim, como de “segunda geração” há muitos anos, pois temos usado, de forma avançada, quase toda a planta.
É necessário, portanto, informar à sociedade que isto é necessário, em primeiro lugar, por que usando a tecnologia de hidrólise, teremos a oportunidade de aumentar muito (50 a 100%) a quantidade de álcool por hectare de cana plantada, reduzindo, com isso, a quantidade de terra necessária para nossa manutenção no mercado.
dados apresentados por Dr. Rossel mostram a possiblidade de se produzir, por tonelada de bagaço, cerca de 186 litros de etanol, 123 provenientes da celulose e 63 da hemicelulose.
Vale salientar que no final do processo para a obtenção do etanol de celulose ainda sobra lignina, que por ter um calor de combustão 3,5 vezes maior do que o do bagaço de cana poderá ser usada para produzir energia.
Temos portanto que incentivar e apoiar as experiências brasileiras na linha de produção de etanol de celulose.
Importantes grupos de cientistas brasileiros vem desenvolvendo um esforço de pesquisa nesta área.
Aqui nós queremos parabenizar o “pensamento mágico” e a persistência do grupo Dedini que desde 1984, começou a estudar a possibilidade de produzir álcool de celulose contida no resíduo de moagem da cana.
O processo DHR, como os demais, tem potencial para permitir que as usinas quase dobrem a produção sem ampliar a área plantada. além disso, será possivel direcionar mais caldo de cana para a fabricação do açúcar, sem reduzir a oferta de álcool.
A Petrobrás, através do Cenpes vem avançando no processo e tem uma expectativa de implantar a primeira usina – piloto de fabricação do etanol ligno-celulósico, a partir de outras matérias-primas, em 2010.
A votorantim Novos Negócios também está anunciando a criação da Biocel, uma empresa que terá em 2010 uma usina de etanol a partir do material celulósico da cana-de-açúcar, com investimentos previstos entre US$ 30 milhões e US$ 40 milhões.
Vale ressaltar que o esforço brasileiro de pesquisa sobre o etanol celulósico ganhou um reforço, quando em janeiro de 2006 foi aprovado o projeto Bioetanol, que está sendo financiado pela Finep e que possui uma rede nacional com cerca de 100 doutores e de 30 laboratórios de várias universidades e centros de pesquisa.
Mas não estamos sós no mundo e sim muito bem acompanhados.
No caminho do etanol celulósico o governo americano não tem poupado investimentos. O Departamento de Energia dos Estados Unidos, por exemplo, programou investimentos da ordem de US$ 385 milhões em quatro anos para financiar novas seis biorrefinarias para transformação de cavacos de madeira e palha de trigo em álcool combustível com o objetivo de tornar o etanol de celulose competitivo com o etanol de milho até 2012, com custos de produção em torno de US$ 1.0 por galão.
A primeira usina a adotar a tecnologia de gaseificação em escala comercial está prevista para entrar em operação este ano.
A previsão é de que a fábrica produza 38 milhões de litros de etanol por ano. esta será a primeira fábrica de etanol a funcionar em escala comercial usando fragmentos de madeira. É um volume, relativamente, baixo em relação ao etanol de milho onde as fábricas produzem de 76 milhões a 380 milhões de litros ao ano; mas não deixa de ser importante.
Aproveitamos a oportunidade para salientar a importância de incluirmos dentre as outras matérias primas para produção de etanol celulósico brasileiro a madeira. o setor florestal brasileiro tem uma silvicultura avançada e uma vantagem comparativa muito grande com os EUA e com os países europeus. Aqui um simples hectare de eucalipto tem produzido até 100 metros cúbicos de madeira por hectare, por ano e em média 45 metros cúbicos, enquanto nas condições destes países produz-se muito pouco.
A China também entra na corrida do etanol celulósico, a partir da Petrochina, e está investindo na produção de etanol a partir de cavacos de madeira em parceria com a estatal de florestas do país.
Finalmente gostaria de tecer alguns comentários que julgo interessantes. para nossa reflexão
Haverá uma pressão social baseada na possibilidade da expansão da agroindústria energética gerar impactos ambientais sérios e competir com terras para outros cultivos de interesse alimentar e mesmo industrial.
Assim, não devemos perder de vista a necessidade de um esforço contínuo para o aumento da produção de etanol mediante o incremento da quantidade de cana produzida por hectare plantado e do processamento mais eficiente da matéria prima. o etanol celulósico pode ser uma ferramenta positiva neste caso.
Quero reprisar aqui o alerta do prêmio nobel de química Alan Macdiarmid sobre a necessidade do Brasil desenvolver biorrefinarias para produzir uma grande gama de químicos junto com os biocombustíveis.
Vale ressaltar, também, um outro alerta feito por ele ao dizer que o (os) países que dominarem a hidrólise enzimática terá (ão) um produto muito valioso para a construção do futuro da bioenergia.
Por fim, quero dizer que nós descobrimos um caminho novo: plantar energia. Concordamos, plenamente, com os que dizem que será através desses plantios de energia que os países tropicais substituirão os campos petrolíferos do mundo.
Esta é a solução para o mundo.
Faço minhas, as palavras de todos os cientistas, de que deve haver um esforço cada vez maior na implementação de politicas públicas de estimulo à inovação em processos industriais e na aplicação industrial da catálise enzimática.
Como Chefe da Embrapa Florestas,  solicito a todos uma atenção especial sobre o potencial do setor de base florestal na produção de etanol celulósico.
Como representante de minha empresa, e em nome do Dr. Sílvio Crestana, colocamos a Embrapa à disposição do setor sucroalcoleiro.
A embrapa, pelo fato da existência do extinto Instituto do Açúcar e Álcool, do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), antigamente da Copersucar, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e de algumas Universidades, historicamente, não teve o envolvimento com a cana e com o álcool. Agora, no entanto, em outro momento, se coloca a disposição para promoção das parcerias necessárias.
Por fim, queremos dizer muito obrigado à Fiesp e reafirmar que disponibilizaremos todos os esforços no caminho da construção conjunta de nossa primeira empresa de propósito específico – EPE para tratar do assunto agroenergia.

MOACIR MEDRADO
Enviado por MOACIR MEDRADO em 12/06/2013
Alterado em 12/06/2013
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