DOIS MOGNOS, DOIS MUNDOS
Moacir José Sales Medrado[1]
No Brasil, dois mundos coexistem sob o manto verde da silvicultura, entrelaçados por uma história complexa que se desdobra nos campos comercial e científico. De um lado, erguem-se imponentes os cultivos de mogno africano, cuja ascensão desenha uma narrativa de crescimento e prosperidade. Do outro, na sombra das dificuldades, encontra-se o mogno brasileiro, enfrentando obstáculos que desafiam até os mais destemidos.
Nos últimos anos, testemunhamos o florescimento dos cultivos de mogno africano em solo brasileiro, um espetáculo de grandeza que se estende por mais de 50 mil hectares em 2023. Nessa jornada, somos protagonistas, talvez os maiores plantadores desse gênero. O sucesso comercial brilha como um sol radiante, iluminando os olhos dos que vislumbram um futuro promissor.
Porém, ao olhar para o mogno brasileiro, a paisagem se transforma em um terreno mais árido. Os desafios impostos pela praga e as dificuldades científicas parecem ser pedras no caminho, obstaculizando o crescimento desse tesouro nacional. A broca-do-ponteiro, como uma sombra persistente, coloca em xeque o esforço de quem ousa desafiar a natureza.
Nesse jogo de apostas, é perceptível que as fichas estão sendo concentradas na substituição, na ascensão do mogno-africano. No entanto, resta-nos refletir sobre a riqueza inexplorada que o mogno brasileiro guarda consigo. Será que estamos dispostos a abandonar essa herança única?
Alguns destemidos, abnegados do conhecimento florestal, desafiam as probabilidades. No caso, alguns poucos silvicultores e órgãos de pesquisa, entre eles, o pessoal da Futuro Florestal e a Embrapa Florestas, ainda, persistem na busca por alternativas à broca-do-ponteiro. São como guardiões de um legado, mantendo a chama do mogno brasileiro acesa, apesar dos ventos desafiadores.
Talvez a resposta não esteja na exclusão, mas na harmonia. Nasce a possibilidade de plantios mistos, de sistemas agroflorestais que respeitam a essência da flora brasileira. Afinal, nas florestas naturais da América, o mogno brasileiro se mostra avesso à concentração, uma árvore que prefere dançar em meio à diversidade do que brilhar solitária.
Assim, enquanto os campos comerciais florescem com o mogno-africano, resta-nos refletir sobre o equilíbrio que a natureza insiste em nos ensinar. Dois mundos, dois mognos, cada um com sua história e desafios. Quem sabe com a ampliação do esforço apostando na diversidade de atores e de espécies encontremos nos plantios mistos e nos sistemas agroflorestais de média a alta complexidade a chave para um futuro onde a riqueza do mogno brasileiro possa florescer.
[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE), Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM/SEPLAN – Ministério da Agricultura), Doutor em Agronomia (ESALQ/USP), Pesquisador Sênior em Sistemas Agroflorestais (EMBRAPA – aposentado)