PROTEÇÃO DA FLORESTA: UM CHAMADO ATEMPORAL
Moacir José Sales Medrado[1]
Anualmente, no dia 17 de julho, é celebrado o Dia Mundial de Preservação das Florestas, um lembrete da nossa responsabilidade coletiva de proteger esses tesouros naturais. As florestas, além de serem berços de biodiversidade, são pilares fundamentais para a saúde do nosso planeta. Em tempos onde as mudanças climáticas se tornam cada vez mais urgentes, refletir sobre a importância da Proteção das Florestal é um ato de consciência global.
No Brasil, as áreas protegidas são denominadas Unidades de Conservação (UCs) e são regidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Amparado pela Lei Nº 9.985 de 18 de julho de 2000, o SNUC fornece diretrizes e procedimentos oficiais para a criação, implantação e gestão dessas unidades, sistematizando a conservação da natureza no país. As UCs são divididas em duas categorias principais: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável.
As Unidades de Proteção Integral, como estações ecológicas, monumentos naturais, parques nacionais, refúgios de vida silvestre e reservas biológicas, têm como objetivo básico a preservação da natureza, permitindo apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. Já as Unidades de Uso Sustentável, incluindo áreas de proteção ambiental, áreas de relevante interesse ecológico, florestas nacionais, reservas de desenvolvimento sustentável, reservas de fauna, reservas extrativistas e reservas particulares do patrimônio natural, objetivam compatibilizar o uso direto de parte dos recursos naturais com a conservação da natureza, permitindo a exploração sustentável do ambiente.
Além do SNUC, o Código Florestal Brasileiro é um marco legal crucial para a proteção das florestas. Este conjunto de leis regula o uso e a preservação das florestas e demais formas de vegetação nativa no território nacional, sendo fundamental para a manutenção dos ecossistemas florestais e a proteção da biodiversidade.
De outro lado, o desmatamento ilegal, a extração de madeira ilegal e o uso do fogo são três das maiores ameaças às florestas. A destruição de vastas áreas florestais não apenas reduz a biodiversidade, mas também contribui significativamente para as mudanças climáticas. As políticas de controle e combate ao desmatamento, como monitoramento por satélite e operações de fiscalização, são essenciais para mitigar esses impactos. Programas de reflorestamento e incentivos para práticas agrícolas sustentáveis também desempenham um papel vital na recuperação e proteção das áreas desmatadas.
Outro fator contra o desmatamento tem sido o poder das ações individuais e coletivas na proteção florestal. Chico Mendes, seringueiro e líder sindical, é um exemplo inspirador. Sua luta incansável pela defesa da Amazônia e pelos direitos dos trabalhadores seringueiros nos anos 80 trouxe uma nova luz sobre a importância da floresta. Mendes nos ensinou que cada voz, cada gesto em prol da preservação, conta.
Organizações não governamentais (ONGs) têm sido aliadas indispensáveis nessa jornada. Elas têm trabalhado incessantemente para proteger as florestas, realizando campanhas de conscientização e pressionando governos e empresas a adotarem práticas sustentáveis. Essas ONGs atuam como guardiãs da natureza, enfrentando desafios enormes para garantir que as florestas continuem a prosperar.
Não podemos esquecer da importância da presença indígena na proteção florestal. Não como guardiões, como muitos tentam defini-los, mas pelo fato de que com seu conhecimento ancestral, eles têm mantido práticas de uso sustentável e respeito à natureza por séculos. Sua conexão íntima com a terra é um exemplo poderoso de como podemos viver em harmonia com o ambiente.
A silvicultura comercial brasileira é outro fator que desempenha um papel crucial na proteção das florestas nativas. Para cada hectare de plantação florestal comercial, inúmeros hectares de floresta nativa são poupados. Isso alivia a pressão sobre as florestas naturais, permitindo que elas se regenerem e continuem a fornecer seus valiosos serviços ecossistêmicos.
O manejo florestal sustentável também tem mostrado que investir na conservação é, também, investir no futuro econômico do país. É uma prática que, ao contrário do que muitos pensam, não traz apenas como benefício a madeira, mas também produtos florestais não madeireiros, como castanhas, óleos essenciais, medicinais, dentre outros produtos, que são fontes de sustento para muitas comunidades e possuem um mercado crescente. Em um conceito moderno pode-se incorporar o turismo sustentável, gerando empregos e renda, ao mesmo tempo em que preserva os recursos naturais.
Proteger as florestas é, portanto, uma ação multifacetada que envolve leis, educação, ação comunitária e respeito aos conhecimentos tradicionais. Neste Dia Mundial de Preservação das Florestas, somos convidados a refletir sobre nosso papel nessa causa. Cada um de nós pode fazer a diferença, seja através de escolhas conscientes, apoio a ONGs, ou simplesmente espalhando a mensagem sobre a importância das florestas.
Que essa reflexão não seja efêmera, mas sim um compromisso contínuo. Porque proteger as florestas é, em última análise, proteger a nós mesmos e garantir um planeta saudável para as futuras gerações.
[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE), Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM-SEPLAN – Ministério da Agricultura), Doutro em Agronomia (ESALQ/USP), Pesquisador Sênior em Sistemas Agroflorestais (EMBRAPA – aposentado), Consultor Agroflorestal…