A ILUSÃO DAS BORDAS FLORESTAIS
Moacir José Sales Medrado[1]
Nas florestas, assim como na vida, é comum sermos atraídos pelo que está mais à vista. Em fotografias e vídeos florestais, uma prática recorrente é a captura de imagens junto às árvores da bordadura do povoamento. Para o leigo, essas imagens parecem perfeitamente adequadas, mas para quem possui um mínimo de conhecimento sobre a competição entre plantas, essa prática não retrata fielmente a realidade do povoamento florestal.
As árvores de borda desfrutam de um privilégio singular: a ausência de competição em uma de suas laterais. Isso permite que cresçam mais livres, mais robustas, com copas mais amplas e folhagens mais densas. Em contraste, as árvores que se desenvolvem no interior do povoamento enfrentam uma constante luta por luz, água e nutrientes, resultando em um crescimento mais equilibrado e representativo da verdadeira situação do povoamento.
Muitos proprietários e profissionais que prestam assistência aos povoamentos florestais utilizam as bordaduras com um objetivo claro: valorizar o povoamento. No entanto, a longo prazo, essa estratégia pode apresentar alguns desafios. Potenciais compradores ou investidores podem criar expectativas irrealistas sobre a produtividade e a qualidade do povoamento com base em imagens que não representam a realidade completa. Isso pode levar a decepções e problemas de credibilidade no futuro.
A confiança é um fator crucial nas relações comerciais e profissionais. Usar imagens que não mostram a realidade pode prejudicar a confiança entre proprietários, investidores e consultores. Transparência nas apresentações fortalece a relação e evita mal-entendidos. Vale, também, ressaltar que mesmo se as imagens não foram feitas com a finalidade de valorização do povoamento elas podem trazer problemas. Ao distorcer inocentemente a percepção do proprietário ou do agente de assistência técnica pode levar a decisões de manejo e investimento que poderão resultar em práticas inadequadas, causando custos desnecessários ou até mesmo à degradação do povoamento.
Durante avaliações e auditorias, a discrepância entre as imagens promocionais e a realidade será, certamente, percebida, o que pode resultar em perda de credibilidade e danos à reputação. Avaliadores experientes identificarão facilmente a diferença entre as árvores de borda e as do interior do povoamento. Além disso, práticas florestais sustentáveis dependem de uma compreensão precisa da densidade, diversidade e saúde do povoamento. Fotografias não representativas da realidade, independentemente do propósito, podem mascarar problemas como pragas, doenças ou competição excessiva, dificultando a implementação de soluções eficazes.
Para evitar esses problemas, é aconselhável equilibrar as fotografias de borda com imagens do interior do povoamento. Isso não só proporciona uma visão mais realista da floresta, mas também demonstra um compromisso com a transparência e a sustentabilidade. Além disso, pode-se utilizar descrições detalhadas e dados técnicos para complementar as imagens, fornecendo uma análise completa do estado do povoamento.
Em resumo, enquanto as fotos de borda podem ser atraentes e úteis para valorizar o povoamento a curto prazo, a transparência e a precisão nas representações fotográficas são essenciais para evitar problemas futuros e manter a confiança e a integridade nas relações comerciais e profissionais. Ao optar por fotografias mais representativas do interior do povoamento, mostramos não apenas a beleza da floresta, mas também o compromisso com uma gestão florestal responsável e sustentável.
Por fim, para criar uma imagem para foto ou para vídeo que atenda a objetivos de marketing e que possa ser representativa do estado do povoamento em determinado momento do ciclo, sugiro que siga estas diretrizes:
Escolha de Localização:
Composição da Foto:
Iluminação:
Contexto:
Perspectiva:
Ao seguir essas diretrizes, a imagem não só atenderá aos objetivos de marketing, mas também oferecerá uma visão genuína e educativa do povoamento florestal. Isso contribuirá para uma melhor compreensão e apreciação das complexidades da floresta, tanto por leigos quanto por especialistas.
[1] Engenheiro Agrônomo (UFCEE), Especialista em Planejamento Agricola (SUDAM/SEPLAN – Ministério da Agricultura), Pesquisador Sênior em Sistemas Agroflorestais (EMBRAPA – aposentado), Consultor na Medrado e Consultores Agroflorestais Associados Ltda. (MCA), Doutor em Agronomia (ESALQ/USP)