DIA NACIONAL DA SILVICULTURA: UM COMPROMISSO COM O FUTURO
Moacir José Sales Medrado[1]
No dia 7 de dezembro, o Brasil celebra o Dia Nacional da Silvicultura, uma data instituída pela Lei nº 12.643/2012 para conscientizar a sociedade e os produtores rurais sobre a importância dessa atividade para o meio ambiente e a economia. Inspirados pelo texto de Dr. Nelson Barbosa Leite publicado em COMUNIDADE DE SILVICULTURA , aproveitamos esta oportunidade para refletir sobre os avanços, desafios e perspectivas deste setor estratégico, essencial para o desenvolvimento sustentável do país.
O setor de florestas plantadas já conta com mais de 10 milhões de hectares, movimentando um comércio internacional de US$ 12,7 bilhões e consolidando o Brasil como o maior exportador de celulose do mundo. Vale ressaltar que, diariamente, o setor planta 1,8 milhões de árvores, contribuindo significativamente para a remoção e estocagem de carbono. Soma-se a isso mais de 1,3 milhões de hectares de concessões florestais sob gestão do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), evidenciando a silvicultura como uma poderosa aliada no combate às mudanças climáticas, na proteção da biodiversidade e na conservação dos recursos hídricos. É um setor que desempenha um papel crucial na geração de empregos e no desenvolvimento social. De acordo com o Relatório Anual da Indústria Brasileira de Árvores (IBA, 2024), é responsável por cerca de 3,75 milhões de empregos diretos, indiretos e resultantes do efeito-renda, demonstrando seu impacto significativo na melhoria da qualidade de vida de inúmeras famílias brasileiras.
Como contribuição ao processo de mitigação dos gases de efeito estufa, em 2023, de acordo com a pesquisa realizada pelo IBA, 88% das empresas relataram possuir inventário de Gases de Efeito Estufa (GEEs). Além disso, 87% da energia consumida pelo setor vem de fontes limpas e 64% dos materiais gerados nos processos produtivos são destinados à geração de energia. Contudo, os desafios são muitos, e enfrentá-los exige inovação, resiliência e uma visão estratégica que integre diferentes atores da sociedade.
Entre os avanços mais notáveis, destaca-se a diversificação das florestas plantadas, que, além de eucalipto, pinus e teca, agora inclui importantes espécies introduzidas, como o mogno africano e o cedro australiano, além de inúmeras nativas, como o jequitibá-rosa, guanandi, ipê-felpudo e louro-pardo, dentre outras. Essa diversificação amplia o rol de espécies produtoras de madeira e valoriza diferentes biomas, criando novas oportunidades econômicas para produtores e comunidades. A integração das espécies nativas aos sistemas produtivos é um marco que reforça a silvicultura como instrumento de restauração ecológica.
Outro ponto de destaque é a liderança brasileira em florestas certificadas. Com cerca de 10,6 milhões de hectares certificados pelo FSC e CERFLOR (IBA, 2024), o país assegura acesso a mercados exigentes, reforçando seu compromisso com práticas responsáveis e sustentáveis. Esse protagonismo reflete a seriedade do setor em atender às demandas globais por produtos éticos e de origem sustentável.
O uso de sistemas de produção sustentáveis permitiu avanços importantes, como o registro de 8.310 espécies em áreas plantadas pelo setor, o retorno de 82% da água captada para uso nas fábricas de celulose e papel (63% no segmento de pisos e painéis) após tratamento, e um índice de reciclagem de 58,1%.
No âmbito da recuperação ambiental, o Brasil tem metas ambiciosas. Por meio do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), pretende-se restaurar, pelo menos, 12 milhões de hectares até 2030. Nesse contexto, a silvicultura é uma aliada estratégica, possibilitando a proteção de solos, a manutenção de recursos hídricos e a integração do país aos mercados globais de carbono. De acordo com o IBA, os silvicultores brasileiros já contam com 10,2 milhões de hectares de plantios comerciais e 6,91 milhões de hectares de florestas naturais conservadas. Isso permite a estocagem de cerca de 4,92 milhões de toneladas de CO₂ equivalente (tCO₂eq), posicionando o setor como protagonista na mitigação das mudanças climáticas e no mercado de créditos de carbono.
A modernização tecnológica também merece destaque. Ferramentas como sensoriamento remoto, drones e modelagem computacional, dentre outras, têm revolucionado a gestão florestal, tornando-a mais eficiente e sustentável. No entanto, é crucial torná-las acessíveis também a pequenos e médios produtores, ampliando os benefícios para toda a cadeia produtiva.
Além disso, novas fronteiras têm sido exploradas, como o Cerrado e a Amazônia. Esses biomas oferecem oportunidades de expansão sustentável, desde que respeitadas suas peculiaridades ecológicas e a legislação ambiental. A valorização internacional da Amazônia reforça a importância de práticas de manejo que conciliem conservação e produtividade, potencializando o uso sustentável dos recursos florestais.
Por outro lado existem inúmeros desafios a serem enfrentados pelo setor florestal, com destaque para dois pontos cruciais: a necessidade de renovação de talentos, diante da queda no número de estudantes matriculados nos cursos de Engenharia Florestal, e a disparidade na gestão e no uso de tecnologias entre as grandes indústrias e os pequenos e médios produtores florestais.
Para atrair mais jovens à Engenharia Florestal, é indispensável conectar a profissão a temas de grande relevância, como sustentabilidade, mudanças climáticas e economia verde, enfatizando seu impacto positivo na sociedade. Sugiro as seguintes estratégias: a) Campanhas em redes sociais, parcerias com influenciadores e palestras em escolas podem despertar o interesse, enquanto bolsas de estudo, estágios e competições tornam o curso mais acessível e atrativo; b) Atualizar o currículo com tecnologias modernas, como drones e inteligência artificial, além de incluir disciplinas sobre bioeconomia e manejo sustentável, é essencial para formar profissionais alinhados às demandas atuais; c) Programas de mentoria com especialistas e parcerias com empresas demonstram o potencial de sucesso na área, enquanto projetos de extensão em escolas e semanas acadêmicas ampliam a visibilidade da profissão desde cedo; d) Parcerias internacionais reforçam a relevância global da Engenharia Florestal; e e) esforços para desmistificar a profissão ajudam a evidenciar sua amplitude, que vai muito além do simples plantio de árvores.
Para promover uma silvicultura mais inclusiva e sustentável, é essencial ampliar a participação de pequenos e médios produtores e aprimorar a qualidade de seus plantios. Isso pode ser alcançado por meio de políticas públicas que ofereçam incentivos financeiros, assistência técnica e acesso a tecnologias modernas, capacitando esses produtores a adotarem práticas sustentáveis e a integrarem-se de forma competitiva ao mercado. Ao fortalecer a base produtiva, o setor como um todo se beneficia, promovendo um desenvolvimento mais equilibrado e equitativo. O fortalecimento de cooperativas e associações pode viabilizar certificações, facilitar o acesso ao mercado e promover a compra coletiva de insumos. Investimentos em infraestrutura, como estradas e hubs regionais, e em pesquisa voltada para espécies nativas e sistemas agroflorestais, completam o conjunto de ações necessárias para integrar pequenos produtores ao setor florestal, fortalecendo o desenvolvimento sustentável de forma equilibrada.
Neste Dia Nacional da Silvicultura, é fundamental reconhecer os esforços de toda a cadeia produtiva, desde os “silvicultores de bota” – muito bem lembrados pelo Dr. Nelson Barbosa – que enfrentam sol e chuva para garantir o sucesso das plantações, até os investigadores científicos e gestores que transformam a silvicultura brasileira em exemplo global de equilíbrio entre produção e conservação.
Que este 7 de dezembro seja uma celebração dos avanços conquistados e um chamado à ação para superar os desafios que ainda persistem. A silvicultura brasileira tem o potencial de liderar a transição para uma economia verde, consolidando-se como um pilar estratégico para o desenvolvimento sustentável do Brasil e do mundo
[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE), Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM / SEPLAN – Ministério da Agricultura), Pesquisador Sênior em Sistemas Agroflorestais (EMBRAPA – aposentado), Doutor em Agronomia (ESALQ / USP), Consultor em Sistemas Agroflorestais.