À BEIRA DO COLAPSO: QUANDO A COMUNICAÇÃO AMPLIFICA A AGONIA DA NATUREZA
Moacir José Sales Medrado[1]
Estamos vivendo um momento crítico da história humana. A população mundial cresce rapidamente, e a demanda por alimentos e recursos segue esse ritmo. No entanto, os principais produtores agrícolas do mundo – países desenvolvidos como Estados Unidos e os da Europa – já chegaram, ou estão muito próximos, ao limite de sua capacidade produtiva. Suas terras, exploradas ao máximo, não oferecem mais espaço para expansão sem sacrificar áreas naturais remanescentes.
A Rússia, com seu vasto território, também enfrenta desafios, com grande parte de suas áreas inapta para a agricultura. Diante disso, as nações em desenvolvimento, como Brasil, Índia e países africanos, carregam o peso de serem vistas como a última fronteira. Suas florestas e savanas, ecossistemas vitais para o equilíbrio climático global, estão sob constante ameaça de desmatamento para abrir caminho à expansão agrícola. A pressão sobre esses países é imensa, e a devastação de seus recursos naturais pode ter consequências catastróficas.
A China, por sua vez, enfrenta um paradoxo. Apesar de avanços tecnológicos notáveis na agricultura e uma política de segurança alimentar rigorosa, o país luta para equilibrar a enorme demanda de sua população com a escassez de terras agrícolas de alta qualidade. Para atender à crescente necessidade de alimentos, a China vem adquirindo terras em outros países e investindo em megaprojetos agrícolas no exterior, o que frequentemente gera tensões geopolíticas e aumenta a pressão sobre ecossistemas frágeis em regiões como África e América Latina. Essa abordagem tem consequências ambientais globais que não podem ser ignoradas.
Estudos indicam que já ultrapassamos sete dos nove limites planetários – limites que definem a capacidade do planeta de manter um ambiente estável. Entre eles, destacam-se a mudança climática, a perda de biodiversidade, o uso do solo e o ciclo da água, todos operando fora de uma "zona segura".
Esses limites ultrapassados são mais do que números ou previsões. Eles representam a realidade de um planeta que está perdendo sua capacidade de se autorregular. O aumento da temperatura global, a acidificação dos oceanos e a extinção em massa de espécies são evidências claras de que estamos à beira de uma catástrofe ambiental.
No entanto, mesmo com todos os alertas, os cientistas enfrentam crescente resistência. Movimentos que negam as mudanças climáticas ganham força, dificultando ações políticas globais urgentes para mitigar os impactos. A natureza, enquanto isso, agoniza silenciosamente, e o tempo para agir está se esgotando.
Essa contradição é alimentada por discursos políticos ambíguos e por lideranças que, ao invés de encorajar soluções, exacerbam a polarização. Um exemplo preocupante está nas comunicações, ainda não oficiais, do presidente eleito dos Estados Unidos. Suas mensagens, disseminadas antes mesmo de assumir o cargo, já geram incertezas sobre o compromisso do país com o combate às mudanças climáticas.
[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE), Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM / SEPLAN – Ministério da Agricultura), Pesquisador Sênior em Sistemas Agroflorestais (Embrapa – aposentado), Doutor em Agronomia (ESALQ / USP), Consultor em Sistemas Agroflorestais