MOACIR MEDRADO - MOGA
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ENTRE RÓTULOS E RANCORES: A CRÔNICA DE UMA SOCIEDADE EM CONFLITO

 

Moacir José Sales Medrado[1]

 

Hoje, nas redes sociais e nos almoços de família cada vez mais tensos, ergue-se, o palco onde esquerda e direita se enfrentam em batalhas de ideias que, muitas vezes, sequer são compreendidas por seus protagonistas. Nessa arena, o que deveria ser um debate construtivo transforma-se em um duelo de ofensas, generalizações e acusações que, no fim, não constroem pontes, mas levantam muros ainda mais altos.

 

E quem são esses combatentes? De um lado, aqueles que se declaram de esquerda, mas não sabem explicar com clareza o que significa lutar por igualdade social ou defender a intervenção estatal na economia. Do outro, os autoproclamados de direita, que muitas vezes confundem o liberalismo econômico com autoritarismo ou não conseguem justificar sua crença no mercado como solução universal. Ambos os lados, em muitos casos, se armam de rótulos prontos, ignorando a complexidade de suas próprias posições.

 

Essa dificuldade de articulação não é exclusividade da política. Muitas pessoas têm dificuldade em interpretar e explicar suas emoções, sejam elas relacionadas à escolha de um carro, de um time de futebol, ou mesmo de um hobby. Quando essas emoções são desafiadas, especialmente em temas que envolvem preferências ou identidades pessoais, a frustração surge. E onde há frustração, a raiva não tarda a aparecer. Assim, o que poderia ser um diálogo produtivo transforma-se em uma onda de discussões onde cada lado busca apenas reafirmar suas escolhas, não compreendê-las.

 

Se tens dúvida, tente questionar alguém sobre algo que não seja político, mas que envolva alguma paixão pessoal. Diga a um amigo que ele deveria usar outro modelo de celular ou insinue que o destino de suas férias não foi a melhor escolha. As reações podem ser surpreendentemente semelhantes às de um debate político, com defensivas, argumentos inflamados e, às vezes, até ataques pessoais.

 

As pessoas, portanto, ficam bravas quando sentem que estão sendo obrigadas a viver em uma sociedade governada pelos valores do outro. E é isso que está em questão: a política deveria envolver sempre poder e cooperação. Uma política composta apenas de um foco no poder não promoverá uma civilização maior — ela tentará se isolar da influência de outras formas de pensar. Por outro lado, uma política composta apenas de pessoas defendendo a cooperação dificilmente moverá aqueles que buscam e exercem poder. Ambos são necessários em um país dinâmico.

 

Será que esquecemos o que significa discordar com respeito? Ou, pior ainda, esquecemos como pensar criticamente? Quando alguém grita "fascista!" ou "comunista!", é como se dissesse "eu não preciso ouvir você, pois já sei tudo sobre o que representa". Nesse silêncio imposto pelas palavras barulhentas, perde-se o diálogo, e com ele, a oportunidade de crescer.

 

Talvez seja hora de nos perguntarmos: o que estamos realmente defendendo? E, mais importante, como podemos reconstruir um espaço para o encontro entre ideias diferentes? A resposta não está em aderir cegamente a uma bandeira ou em atacar a do outro, mas em resgatar a curiosidade, a escuta e a vontade de aprender. Somente assim poderemos transformar rótulos e rancores em algo que realmente valha a pena ser discutido.

 


[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE - 1971), Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM/SEPLAN – Ministério da Agricultura 1975), Pesquisador Sênior em Sistemas Agroflorestais (EMBRAPA – aposentado em 2009), Consultor em Sistemas Agroflorestais (2025)

MOACIR MEDRADO
Enviado por MOACIR MEDRADO em 12/01/2025
Alterado em 12/01/2025
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