MOACIR MEDRADO - MOGA
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AUTORITARISMO E ARTE: O PODER DO CINEMA CONTRA A SOMBRA DO PASSADO

 

Moacir José Sales Medrado[1]

 

O cinema muitas vezes reflete as verdades mais incômodas da sociedade, em Hollywood surge uma narrativa que pulsa com o peso dos tempos:  Ainda Estou Aqui. O filme, que traz em sua essência uma poderosa reflexão sobre as feridas deixadas por regimes autoritários, encontra eco em um mundo onde o autoritarismo não é apenas uma lembrança distante, mas uma sombra que ainda se projeta sobre democracias modernas.

 

Em meio a este cenário, Donald Trump, figura que dispensa apresentações, ocupa o palco não apenas da política, mas também das discussões culturais. Para muitos, ele simboliza uma tensão constante entre poder e responsabilidade, entre discurso e impacto. Seu estilo polarizador e retórica controversa parecem amplificar o debate sobre o papel do cinema como reflexo e catalisador de transformações sociais.

 

Hollywood, historicamente inclinada às vozes progressistas, frequentemente ergue suas estatuetas douradas em direção às obras que desafiam o status quo. Filmes que confrontam o autoritarismo encontram solo fértil em uma indústria que valoriza narrativas de resistência e liberdade. Não será surpresa, portanto, que Ainda Estou Aqui, com sua mensagem incisiva, possa atrair, de forma decisiva, a atenção dos votantes da Academia.

 

A performance de Fernanda Torres, visceral e profundamente humana, parece ser o coração pulsante do filme. Sua capacidade de traduzir o sofrimento coletivo em emoções individuais é o tipo de atuação que não apenas comove, mas também dialoga diretamente com as inquietações contemporâneas. Em um ano em que o Oscar busca não apenas celebrar o cinema, mas também reafirmar sua relevância como plataforma de discussões globais, o filme e sua protagonista podem ter encontrado seu momento.

 

Ainda assim, há algo a ser dito sobre a habilidade do filme de transcender a polêmica imediata. Eu Ainda Estou Aqui além de atual é universal. A mensagem que ele expressa ressoa não apenas como uma crítica a um fato passado, mas como um apelo às gerações atuais e futuras. Ainda Estou Aqui é mais do que uma resposta ao fenômeno Trump — é uma obra que questiona as estruturas que permitem que figuras como ele emerjam e prosperem.

 

Se o filme tocar a cabeça dos julgadores como uma peça que mostra equilíbrio — entre o urgente e o eterno, entre o político e o humano —, não será apenas um concorrente ao Oscar. Poderá vir a ser considerado por eles uma obra-prima que nos lembra, como sugere seu título, que a resistência é um ato de permanência. Porque enquanto houver quem conte essas histórias, quem as viva e as transmita, sempre haverá esperança de que a arte possa iluminar mesmo os tempos mais sombrios.

 


[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE), Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM / SEPLAN – Ministério da Agricultura, Doutor em Agronomia (ESALQ / USP).

MOACIR MEDRADO
Enviado por MOACIR MEDRADO em 26/01/2025
Alterado em 26/01/2025
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