MOACIR MEDRADO - MOGA
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O Preço da Introdução: O Que a Natureza Nos Ensina Sobre Espécies Florestais Comerciais

 

Moacir José Sales Medrado[1]

 

A silvicultura brasileira tem vivido uma transição silenciosa, mas profunda. O avanço dos plantios comerciais trouxe consigo novas promessas e, inevitavelmente, novos desafios. Entre eles, o mogno africano (Khaya spp.) emergiu como uma alternativa rentável, capaz de suprir a crescente demanda pela madeira nobre do ameaçado mogno brasileiro (Swietenia macrophylla). No entanto, o plantio de espécies introduzidas sempre carrega consigo uma incógnita.  

 

Benso (2019) conduziu um estudo de três anos sobre a dispersão espacial da murcha de Ceratocystis em talhões de Khaya senegalensis, identificando um impacto severo da doença, capaz de comprometer a qualidade da madeira. A pesquisa sugeriu que a infecção está fortemente associada às práticas de manejo, especialmente à poda, e destacou a necessidade de estudos sobre higienização de ferramentas, proteção de ferimentos e busca por materiais geneticamente resistentes. Além disso, o autor fez o primeiro relato da ocorrência dos fungos Boeremia exigua e Epicoccum sorghinum em viveiros de K. senegalensis e K. grandifoliola, ambos agentes potenciais de manchas foliares, que podem comprometer o crescimento e a sanidade das mudas. Outro fator preocupante identificado na pesquisa foi a presença de coleobrocas, com destaque para as espécies Megaplatypus dentatus, Euplatypus parallelus e Theoborus villosulus. Embora a maioria dos besouros não tenha conseguido estabelecer galerias devido às respostas de defesa da planta, o autor alerta que ataques massais poderão representar uma ameaça significativa ao desenvolvimento da cultura. 

 

Diante desse quadro, a estratégia de pequenos agricultores – no caso específico, os baianos – de investir na diversificação com espécies nativas torna-se um movimento prudente, mas não uma solução sem risco. O plantio de louro-pardo (Cordia trichotoma), ipê-felpudo (Zeyheria tuberculosa), jequitibá-rosa (Cariniana legalis) e guanandi (Calophyllum brasiliense) pode reduzir a pressão de seleção sobre pragas e patógenos, quebrando ciclos biológicos e ampliando a resiliência dos sistemas produtivos. Contudo, a experiência com o mogno africano ensina uma lição essencial: o risco fitossanitário não desaparece, apenas se transforma. 

 

A história das espécies introduzidas no Brasil já mostrou que, à medida que os plantios comerciais de uma determinada árvore se expandem, doenças antes pouco expressivas ganham força, favorecidas pela homogeneidade genética e pela concentração de hospedeiros. A monocultura do mogno africano deverá também seguir essa tendência, e mesmo as espécies nativas introduzidas agora nos sistemas monoculturais e também agroflorestais poderão, com o tempo, revelar suas próprias vulnerabilidades. Vale ressaltar, no entanto, que o plantio em sistemas mistos ou agroflorestais, com densidades mais baixas para cada espécie, certamente será mais seguro. 

 

Portanto, mais do que uma simples substituição de espécies – no caso, do mogno africano pelas nativas – é fundamental adotar uma abordagem de manejo integrado, investindo em pesquisa, monitoramento constante e práticas que favoreçam a diversidade genética e estrutural dos plantios. A natureza, afinal, não oferece garantias – apenas nos ensina que, na floresta e na silvicultura, a única defesa verdadeira é a adaptação contínua. 

 

REFERÊNCIA

BENSO, L.A. Doenças do mogno africano : Etiologia, epidemiologia e associação com coleobrocas / Lucas Antonio Benso. – Botucatu, 2019.103 p. : il., tabs., fotos Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências Agronômicas, Botucatu. Orientador Edson Luiz Furtado; co-orientador Carlos Alberto Hector Flechtmann. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/server/api/core/bitstreams/469aca52-1ef3-4d96-9195-94c54a163345/content Acessado em 15/02/2025

 


[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE), Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM / SEPLAN – Ministério da Agricultura), Doutor em Agronomia (ESALQ / USP), Pesquisador Sênior em Sistemas Agroflorestais (EMBRAPA - aposentado)

MOACIR MEDRADO
Enviado por MOACIR MEDRADO em 15/02/2025
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