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MODERNIZAÇÃO DO MODELO DE GESTÃO DE UMA EMPRESA NACIONAL DE PESQUISA AGROPECUÁRIA E FLORESTAL

MODERNIZAÇÃO DO MODELO DE GESTÃO DE UMA EMPRESA NACIONAL DE PESQUISA AGROPECUÁRIA E FLORESTAL

Moacir José Sales Medrado[1]

RESUMO

Este artigo propõe diretrizes para a modernização da gestão de empresas nacionais de pesquisa agropecuária e florestal, com foco na Embrapa. A abordagem está ancorada em referências teóricas contemporâneas de gestão da inovação, benchmarking internacional e proposição de modelos adaptativos, digitais e sustentáveis. Conclui-se com um plano de ação estratégico que articula governança, cultura organizacional e ecossistemas de inovação.

Palavras – chave: gestão da inovação, pesquisa agropecuária, sustentabilidade, governança adaptativa, Embrapa

 

I - INTRODUÇÃO

O setor agropecuário brasileiro, protagonista na segurança alimentar global, exige instituições de pesquisa ágeis, colaborativas e tecnologicamente avançadas. Este artigo discute a modernização da gestão dessas instituições, em especial da Embrapa, com base em princípios de inovação aberta, transformação digital, sustentabilidade e eficiência organizacional.

 

II – REFERENCIAL TEÓRICO

Autores como Drucker (1973), Christensen (1997) e Chesbrough (2003) estruturam a base conceitual deste trabalho. Drucker destaca a inovação como função essencial da gestão moderna. Christensen introduz o conceito de inovação disruptiva, essencial para enfrentar mudanças tecnológicas aceleradas. Chesbrough propõe a inovação aberta, valorizando colaborações externas. Tais abordagens são articuladas à luz das melhores práticas de instituições internacionais como CGIAR e ARS/USDA.

 

III – PROPOSTA DE MODELO DE GESTÃO MODERNO

Uma empresa moderna de pesquisa agropecuária de âmbito nacional deve adotar métodos de gestão alinhados às melhores práticas contemporâneas, garantindo eficiência, inovação e impacto socioeconômico. Aqui estão algumas diretrizes essenciais:

III.1. Governança Adaptativa e Descentralização

Estrutura flexível

  • Adotar modelos matriciais ou em rede, com equipes multidisciplinares (pesquisadores, técnicos, extensionistas) trabalhando em projetos específicos.

Autonomia regional

  • Descentralizar decisões para unidades locais, adaptando pesquisas às necessidades de cada bioma ou cadeia produtiva.

Transparência e accountability

  • Implementar métricas claras de desempenho e prestação de contas públicas.

III.2. Transformação Digital e Inovação Aberta

Agricultura digital

  • Utilizar big data, IoT e IA para otimizar pesquisas em melhoramento genético, manejo sustentável e previsão de safras.

Open Science

  • Compartilhar dados e resultados em plataformas abertas (quando possível), fomentando colaboração com universidades, startups e setor privado.

Inovação aberta

  • Parcerias com agtechs e hubs de tecnologia para acelerar desenvolvimento de soluções (ex.: bioinsumos, agricultura de precisão).

III.3. Sustentabilidade e ODS

A pesquisa agropecuária precisa internalizar os princípios da bioeconomia, com métricas ESG claras e projetos orientados à redução de impacto ambiental.

Economia circular

  • Priorizar pesquisas em redução de emissões, fixação de carbono e uso eficiente de recursos hídricos.

Adaptação climática

  • Desenvolver cultivares e técnicas resilientes a extremos climáticos.

Extensão tecnológica

  • Vincular pesquisa ao campo, com programas de transferência de tecnologia para pequenos e médios produtores.

III.4. Cultura Organizacional De Inovação

Liderança inspiradora

  • Promover gestores com visão estratégica e capacidade de engajar talentos.

Incentivo à criatividade

  • Ambientes que estimulem experimentação e tolerância a falhas (como "laboratórios vivos").

Diversidade e inclusão

  • Equipes com representatividade de gênero, raça e regiões para ampliar perspectivas.

III.5. Financiamento Sustentável

Fontes diversificadas

  • Além de recursos públicos, captar investimentos via parcerias PPP, fundos de impacto e royalties de tecnologias.

Resultados mensuráveis

  • Alinhar projetos a indicadores de impacto (ex.: aumento de produtividade, redução de desmatamento).

III.6. Políicas Públicas e Regulação

A interface com o setor público deve ser proativa, com contribuições técnicas para normatização em temas emergentes.

Alinhamento a agendas nacionais

  • Contribuir para metas como Plano ABC+, segurança alimentar e bioeconomia.

Influência regulatória

  • Assessorar governos na atualização de normas (ex.: edição genética, registro de bioinsumos).

IV – APLICABILIDADE NA EMBRAPA

Para tornar a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mais ágil, é preciso modernizar sua gestão, processos e cultura organizacional, alinhando-a às melhores práticas de inovação e eficiência do setor. Aqui estão algumas sugestões estratégicas:

IV.1. Reestruturação Organizacional para Agilidade

Células Ágeis e Estrutura em Projetos

  • Adotar equipes multidisciplinares temporárias (squads) para missões específicas (ex.: desenvolvimento de sementes tolerantes à seca), com autonomia para decisões rápidas.
  • Reduzir burocracia na aprovação de projetos, com orçamentos flexíveis e ciclos curtos de planejamento (trimestral/semestral).

Descentralização Inteligente:

  • Dar mais autonomia aos centros regionais, permitindo ajustes locais em pesquisa e parcerias sem necessidade de longas aprovações hierárquicas.
  • Criar unidades de inovação ágil (ex.: hubs focados em agricultura digital ou bioeconomia).

IV.2. Adoção de Métodos Ágeis e Tecnologia

Ferramentas Digitais

  • Implementar plataformas de gestão de projetos (ex.: Trello, Asana) para monitoramento em tempo real.
  • Usar análise de dados preditiva (IA e machine learning) para acelerar experimentos (ex.: seleção de genes resistentes a pragas).

Ciclos Iterativos de Pesquisa

  • Substituir modelos lineares longos por MVP (Minimum Viable Products) em pesquisa – como lançar cultivares em versões beta para teste rápido com produtores parceiros.

IV.3. Intraempreendedorismo e Liderança

Intraempreendedorismo

  • Criar programas de incentivo a ideias internas (ex.: "hackathons" de soluções para o agro), com recursos para prototipagem.
  • Estabelecer uma área de inovação aberta para parcerias com startups (agtechs) e universidades.

Liderança Adaptativa

  • Treinar gestores em metodologias ágeis (Scrum, Lean) e tomada de decisão baseada em dados.
  • Reduzir hierarquias excessivas, empoderando pesquisadores sêniores como "donos" de projetos.

IV.4. Modelos Financeiros Flexíveis

A flexibilidade orçamentária permite respostas rápidas a emergências tecnológicas.

Modelos Ágeis de Cooperação

  • Firmar contratos simplificados com empresas privadas para cocriação.
  • Criar um fundo de inovação com regras ágeis para alocação de recursos emergenciais (ex.: resposta a crises climáticas).

Captação de Recursos Alternativos

  • Licenciamento acelerado de tecnologias (ex.: royalties de sementes) para reinvestimento em P&D.
  • Crowdfunding para projetos de impacto social (ex.: agricultura familiar).

IV.5. Processos Simplificados

Burocracia Reduzida

  • Digitalizar processos (compras, contratações) usando blockchain para rastreabilidade e contratos inteligentes.
  • Adotar políticas de compliance ágil, mantendo controle sem engessar operações.

Avaliação por Resultados

  • Métricas de desempenho baseadas em impacto real (ex.: adoção de tecnologias por produtores, redução de emissões por hectare).

IV.6. Integração com Sociedade

Transferência de Tecnologia Ágil:

  • Usar aplicativos e redes sociais para difusão rápida de tecnologias (ex.: tutoriais em vídeo para manejo sustentável).
  • Parcerias com cooperativas e influenciadores rurais para feedback contínuo.
  • Laboratórios Vivos (Living Labs): Testar soluções diretamente em propriedades rurais pilotos, com ajustes em tempo real.
  • Squad dedicado (melhoristas, climatologistas, cientistas de dados) trabalha em ciclos de 3 meses para desenvolver variedades com menor pegada de carbono, usando edição genética e parcerias com startups de monitoramento.

V - CONCLUSÃO

A Embrapa pode assumir papel de protagonismo na inovação agropecuária global mediante uma agenda de transformação institucional que articule descentralização, digitalização, sustentabilidade e colaboração em rede. Recomenda-se iniciar pilotos regionais, criar um PMO de inovação, estabelecer OKRs e capacitar gestores.

Próximos passos: Pilotar um centro regional como "unidade ágil" e escalar o modelo após avaliação.

 

REFERÊNCIAS

CHESBROUGH, H. W. Open innovation: the new imperative for creating and profiting from technology. Boston: Harvard Business School Press, 2003.

CHRISTENSEN, C. M. The innovator’s dilemma: when new technologies cause great firms to fail. Boston: Harvard Business School Press, 1997.

DRUCKER, P. F. Innovation and entrepreneurship: practice and principles. New York: Harper & Row, 1985.

 


[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE), Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM / SEPLAN – Ministério da Agricultura); Doutor em Agronomia (ESALQ / USP); Pesquisador Sênior em Sistemas Agroflorestais (EMBRAPA – aposentado)

MOACIR MEDRADO
Enviado por MOACIR MEDRADO em 24/04/2025
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